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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Procuras

A língua tem lá seus caprichos.

Toda e qualquer língua os tem, na verdade muitos.

Um exemplo bastante simplificado em português, só para ilustrar: A ideia adjetiva genérica de "referente a dentes", pode ser expressa, indiferentemente, como

a) dental,

b) dentário/a ou

c) de dentes.

Ora, a, b e c são equivalentes, do ponto de vista semântico. Poderiam ser intercambiáveis, na imensa maioria dos casos. Mas não o são, mesmo. O emprego de um termo ocorre com exclusão dos outros, conforme o substantivo.

Assim, com creme ou fio, por exemplo, preferimos a) dental;
com escova, dor e pasta a preferência recai sobre c) de dentes.
Já para arcada, prótese ou tratamento vamos usar b) dentário.

A coisa certamente vai bem mais longe. E se trabalharmos entre línguas, então...

Por exemplo, atenção é coisa que se presta em português, mas em francês se faz e em inglês se paga, por assim dizer ( prestar atenção = faire attention = to pay attention ).

Porque as línguas são diferentes entre si e têm cada qual seus caprichos peculiares, não há correspondência exata entre as palavras de uma língua e seus equivalentes em outra, menos ainda entre arranjos de palavras de significado correspondente.

O que faz com que uma língua caprichosamente aceite uma determinada palavra ou expressão em determinadas circunstâncias, mas rejeite outra palavra ou expressão equivalente é algo intrigante.

O mesmo se dá nas outras articulações da língua.

No nível morfológico, afixos aceitáveis para determinados radicais não o são para outros perfeitamente aptos a recebê-los. Por exemplo, -udo é um sufixo que contém a ideia de algo relativamente grande, maior do que o normal, tanto em português como em espanhol. Cabeçudo, olhudo, narigudo, barrigudo, barbudo, cabeludo, etc., são corriqueiros para nós. Mas consciençudo não é. Entretanto, em espanhol se diz tranquilamente conscienzudo.

Quem encontrar uma resposta satisfatória e definitiva, terá dado um contributo relevante simultaneamente à linguística, à lexicografia, à tradução, ao ensino de línguas, bem como a várias outras áreas do conhecimento. Mas não é fácil não. Pessoalmente, venho procurando isto há muito tempo, e só sei que nunca cheguei nem perto de encontrar.

A quem também quiser entrar nessa busca, boa sorte.

7 comentários:

Tere Tavares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tere Tavares disse...

Caro João,
Os conjuntos linguísticos, por si só, para além de servirem para a comunicação entre os povos, por mais regras e variantes que apresentem, terá sempre na mesma proporção a interpretação, de acordo com o léxico de cada indivíduo, de cada nação ou etnia.
Some-se a isso os dialetos e regionalismos e forma-se essa contingência inextrincável, ao menos na sua totalidade de signos, significados e símbolos. A busca, portanto, continuará ad eternum!
Beijos

João Esteves disse...

Pois é, Terê. A bsca continuará. E que bom que é receber você
beijos

piccola marcia disse...

os homens e mulheres, os tais que falam essas línguas, têm lá seus caprichos...
vou no popular "(fazer) no capricho" que diz fazer com requinte, com esmero; ou em outra acepção, cuidado, atenção ao fazer algo, esforço em fazer bem!(AULETE DIGITAL)
e como hipótese para essa busca, deixo aqui uma inquietação: será que ao entendermos o que move os seres humanos, poderemos enfim entender os caprichos das línguas?
ah! e boa sorte a todos, a procura continua...

João Esteves disse...

Pois é, querida Piccola. A procura envereda também pela psicologia dos falantes de cada língua, bem como por uma infinidade de outros meandros. Isto complica e difuculta extremamente a procura, mas em nada compromete seu encanto.
A busca prossegue, sim
Beijos

Lais Castro disse...

Rapaz, eu aprendo muito por aqui. Obrigada! Abração direto do Recife.

João Esteves disse...

Do Rio de Janeiro, abração retribuído, Lais