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domingo, 31 de maio de 2009

Então, aos dicionários!

O primeiro dicionário que comentaremos aqui é o Aulete em sua versão eletrônica.

Minha parceira e colaboradora do "En Français Aussi" tem em seu computador (de onde agora improviso este post) uma versão baixada. Examinamo-la rapidamente.

Secar Já encontramo-lo ao abrir o dicionário, e sua leitura nos proporcionou a agradável sensação de contarmos com um produto lexicográfico de confiança, reputado e todos os etcéteras que cabem para um dicionário pra lá de consagrado: um Aulete.

Para simples contraste, fomos logo ao verbete dar, que no Aurélio (de papel) tem pra mais de cem acepções. Ali, encontramos só 34, além de um punhadinho de expressões contendo o verbo dar (acompanhado de qualquer coisa), em separado. É pouco, claro, mas o verbete é bom, no pouco que traz. Salvo certos descuidos de digitação (que não deveriam ser tolerados numa obra de referência que se preze), como em:
dar...
" 29 Exalar (cheiro bom ou mão) [td.: Essa trepadeira dá um cheiro maravilhoso.]" (negrito nosso).
Evidentemente, a palavra "mão" neste verbete é intrusa e só pode ter-se formado de um erro de digitação, explicável pela proximidade das teclas 'm' e 'n' em teclados comuns, mas aqui inadmissível. São erros gritantes (embora nem sempre tão óbvios), que se vierem em profusão podem conspurcar a reputação até mesmo de um Caldas Aulete.

Fomos ainda a outro, sugerido por minha companheira desta viagem lexicográfica. Aí, a primeira grande surpresa. O verbete "saber".
Sua apresentação parece descredenciar totalmente nossa versão digital do Aulete. Apresenta inicialmente quatro acepções para o substantivo masculino (uma das quais eu não sabia, trata-se de regionalismo do Rio de Janeiro, talvez de limitada circulação ou em desuso).
Depois, uma sequência de expressões contendo a palavra "saber". Logo na terceira, a chocante " Não sabera quantas anda ". (negrito nosso) Falta um espaço, num erro óbvio da digitação, culminado numa óbvia negligência da revisão, que nos legou esta forma que - convenhamos - não pode depor favoravelmente ao produto, afinal de contas um Aulete, né?

Para encerrar, no verbete conforme apresentado não aparece nenhuma das tantas acepções do verbo saber. Um verbete estropiado em cujo canto superior direito se lê "verb. atualizado". Quase saio dele totalmente decepcionado com o Aulete eletrônico, mas ainda ocorre-me clicar sobre estes suspeitos dizeres. Faço-o e, felizmente, a área é sensível. O clique me conduz ao verbete original. Meno male, depois desse indigesto porre de erros e desse susto com a integridade da meritória obra referencial.

E lá está todo o verbete "saber". Muito bom, inclusive. Agora, é uma versão em que o Aulete se reconhece. Só me ressinto de o plano gráfico acompanhar o das edições em papel. Aqui, não haveria qualquer necessidade de economizar tanto o espaço físico. As diferençadas consignações mereceriam mais cortesia(*) espacial para facilitar a leitura. E chega de me queixar de coisa boa. É o Aulete, sim, com as devidas ressalvas.

O dicionário Aulete digital está no URL http://www.auletedigital.com.br/download.html
Para quem faz questão de um bom produto lexicográfico, e ainda por cima baixável gratuitamente, ei-lo. Boas consultas.

Uma palavrinha final. Este post dá início a uma série em que tratarei de assuntos mais diretamente lexicográficos. Comentaremos, por exemplo, diversos dicionários e demais obras de referência físicas ou em versão eletrônica.

Este post, quando ainda era apenas um rascunho eletrônico, passou pelo crivo da leitura atenta de minha mencionada parceira, sem o que correria o risco de ser publicado mesmo eivado de erros de digitação meus, contra os quais me insurjo quando encontro em obras de referência.

(*) Cortesia é um termo especializado da lexicografia prática. Significa o espaço deixado em branco no início e no final de uma seção de obra (dicionário, enciclopédia e quejandos). Consulte José Sosa, Lexicografía Práctica, Gredos (se não me engano). Espanha. Não lembro ano nem mais nada.

12 comentários:

Nanda Assis disse...

vc deve ser professor. acertei?
boa semana.

bjosss...

João Esteves disse...

Verdade, Nanda.
Passei décadas dentro de salas de aula, tanto na condição discente quanto na docente.
Estaria aposentado desde 2002 se a lei ainda fosse a mesma do tempo de meu primeiro emprego formal como professor, no colégio Anacleto de Queiroz em Nilópolis, município da Baixada Fluminense onde então eu residia.
Fui contratado por lá em 1977, e à época professores se aposentavam com 25 anos de serviço.
É, você acertou, sim.
Obrigado por sua sempre bem vinda presença.
Beijos

Anônimo disse...

João

É sempre muito bom ler você. Em verso, em prosa e também em textos didáticos essencialmente lexográficos.
Você é único e como faz tempo que não conversamos, já estou começando a ficar enferrujada no português.

João Esteves disse...

Que agradável receber aqui esta lufada de seu bom humor, querida Rose.
Minha presença como leitor e comentarista nos blogs que acompanho anda mesmo rareando e não é questão de esquecimento meu, embora a memória ande meio estropiada, mas pura falta de tempo mesmo.
Sempre bem vinda você sabe que é, em todos os meus espaços virtuais.
Beijos

piccola marcia disse...

acabo por me encantar mais com a (*)'cortesia' do que com os verbetes propriamente ditos; claro, estou sempre um pouco ao lado do assunto principal, olho pros lados e vou enxergando o que não está nos dicionários... [isso é lá colaboradora que se preze?]
por isso, fui atrás da cortesia em suas diferentes acepções (encontrei até 'cortesia militar', pode uma coisa dessas?)
pode, mas como você disse que "só cortesia é enganação", procurei menos enganação e achei o que segue:
"Uma das afirmações mais comuns é a de que nos dicionários encontra-se a língua em
“estado puro”, ou seja, livre de toda e qualquer determinação. Dessa forma, os mecanismos ideológicos, fundamentais para a produção de sentidos, não deixariam marcas nas palavras
dicionarizadas.
Entretanto, não há, na perspectiva discursiva, uma linguagem última, fora dos
mecanismos de produção de sentidos, pois não há linguagem fora da ideologia. Então, não existe a língua em “estado puro”, mas, contrariamente, haverá sempre ideologia, uma história que atravessa todo e qualquer dizer, tornando-o filiado a essa ou àquela formação discursiva.

Interessante notar que o mecanismo de significação do e no dicionário trabalha na
perspectiva do esquecimento, da negação. Ou seja, é ideológico, como toda produção de sentido e,
ao mesmo tempo, esse trabalho de construção é apagado, como se os significados das palavras
fossem sempre aqueles encontrados nos verbetes."

Jailton Lopes Vicente
Universidade Católica de Brasília

deixo aqui, neste longuíssimo comentário, meu agradecimento pela possibilidade de participar de tão interessante estudo lexicográfico.
e vou, agora, voltar aos dicionários!

João Esteves disse...

Piccola, sua participação é o que vem conferindo a este blog (e não só a ele) novo alento, para prosseguir seu destino em frente, rumo ao que seja seu "telos".
Seu comentário também é cortesia, em si. Quanto mais que tão espontânea, tão natural. Vamos bem, assim. Nós e o(s) blog(s). Tudo é soma. E em que boa hora!
Kisses, dearlilng.

OLHAR CIDADÃO disse...

Prezado Neo-orkuteiro

Aqui estou retribuindo a visita, me colocando como seguidor do blog e agradecendo por essa primeira aula.

Um abraço

João Esteves disse...

Seja bem vindo, 007.
Esteja sempre à vontade.
A casa é sua.
Também sigo seu blog.
Forte abraço

Luísa Nogueira disse...

Bom dia, amigo
Esse estudo sobre os dicionários vai ajudar não somente a nós, 'bloqueiros' como, quem sabe, a corrigir algumas das inúmeras falhas dos dicionários.
Vou acompanhá-lo passo a passo... com muito prazer!
Obrigada por nos doar um pouco de seus conhecimentos e pesquisas, que, com certeza, demandam tempo e amor aos estudos!
Um grande abraço!

João Esteves disse...

Bom dia, Luísa.
Obrigado pela visita e comentário. A ideia básica deste blog é realmente ter alguma serventia. Tentarei também, na medida do possível, proporcionar algum prazer a quem como você o prestigia ao visitar, ao ler, ao comentar.
Grande abraço, minha estimada amiga virtual das ecologicamente corretas Multivias

Lais Castro disse...

Encantada com este seu blog. A língua portuguesa me encanta... Adoro aprender coisas novas.
Ah! Eu uso o Aulete Digital e nunca percebi nenhum errinho por ocasião das minahs frequentes consultas...talvez pq não soue specialsita.
Abraço.

João Esteves disse...

Bem, Lais, em geral os consulentes estão com pressa demais para atentar a detalhes de redação nos verbetes. O que principalmente os faz abrir um dicionário as mais das vezes é só querer saber o significado de uma palavra desconhecida ou pouco familiar que aparece num determinado contexto, e de cuja compreensão muita vez depende a compreensão de algo nomomento bem mais importante do que aquela inocente palavrinha.
Erros do tipo dos que aqui acuso raramente são sequer percebidos em tais circunstâncias, e ninguém parece ligar muita importância a eles, mesmo, desde que não comprometam a compreensão do próprio verbete.
Entretanto, correção é uma exigência da qual não se pode abrir mão na hora de ESCREVER uma obra de consulta.
Dicionário é um livro escrito para tirar dúvidas e como tal precisa ser confiável em todos os aspectos, até os mais minudentes detalhes.
E o Aulete é um ótimo dicionário, no fim das contas.
Agradeço pela sua visita e comentário.