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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Le Littré, uma Obra de Mestre

Um endereço que quem lida de alguma forma com o idioma francês não deve desconhecer é

http://francois.gannaz.free.fr/Littre/accueil

Nada menos que Le Littré. Que dicionário grandioso!

Esta antiga maravilha lexicográfica já prestou muitos e relevantes serviços a diversas gerações de utentes, mas nem todo esse tempo transcorrido desde sua confecção transformou-a em mera curiosidade histórica sem qualquer outra serventia. Ele ainda hoje serve (e como!) para nele aprendermos coisas perfeitamente válidas sobre o bom uso de palavras e fraseologia em idioma francês. Ainda podemos nos fiar no que diz para definir palavras, principalmente as mais importantes.

A obra original aqui apresentada já se acha há bom tempo em domínio público, portanto não está atualizada. Mas vale a pena realmente conhecer e servir-se dela, ainda. Inclusive como modelo ou exemplo. Esta versão ressente-se naturalmente, como aliás a quase totalidade do que se acha disponível em versão virtual, da indesejável presença de erros de digitação, em quantidade bem maior que na obra impressa. Consta inclusive uma advertência neste sentido na apresentação da versão virtual. Mas nada enfim que chegue a comprometer seriamente seu incrivelmente rico conteúdo.

Para dar só um exemplo, logo no início do verbete exocet, podemos ler o seguinte, sic:

"Genre de poissons malacoptérygiens abdominaux, pourvus. de grandes nageoires pectorales qui leur permettent de ... "

O ponto depois de ‘pourvus’ é evidentemente intruso, mas pelo menos a palavra seguinte tem inicial minúscula, como se o tal ponto não estivesse nem ali. O diabo é que está, merde!

Pressa na digitação e cochilo na revisão, claro, mas pelo menos neste caso sem qualquer prejuízo ao consulente fora, convenhamos, um pouco de afeiamento. Logo numa obra de tantos méritos! Fazer o quê?

Pelo rigor na seleção das palavras e dos exemplos, pela clareza, concisão e objetividade nas definições, pelos critérios rigorosos na apresentação, enfim praticamente em tudo e por tudo, o Littré ainda supera muitos dos dicionários atuais.

Após o título a cada entrada, vem sempre a classificação gramatical da palavra acompanhada quase invariavelmente de alguma informação sucinta porém relevante sobre seu uso como tal, que pode ser algum detalhe sobre a pronúncia (à época do autor, o alfabeto da Associação Fonética Internacional ainda nem sonhava de ser inventado, mas a figuração de pronúncia que ele utiliza é muito boa, e realmente orienta o consulente onde cabe fazê-lo), ou então sobre a da flexão da palavra, ou ainda qualquer outra informação congênere que o termo francês peça. Podemos com segurança atribuir à regra mais geral todo e qualquer caso onde nenhuma destas informações estiverem presentes. Requinte como este só mesmo um dicionário excelente pode oferecer.

As definições são de regra bastante precisas. Aplicada a tal regrinha da substituição, veremos que sempre funciona, uma beleza. A cada acepção registrada, farta exemplificação de bom emprego da mesma, extraída em geral da obra de autores pra lá de consagrados.

No final, uma seção etimológica. Não custa termos boa vontade aí, já que com o que se sabia neste campo nos tempos de Littré, ele realmente fez o que dava e com indiscutível competência, seriedade, responsabilidade. Até onde não acertava em cheio logo de saída, ele levantava muito bem fundadas hipóteses com base naquilo de que dispunha. Quanto a etimologias, portanto, fora a ressalva de que sempre convém averiguar o que consta nas melhores fontes atuais, a obra ainda presta serviços, já que muito do que registra ainda não foi contestado.

O Littré não é, claro, uma obra definitiva para etimologias. Já mereceu innclusive diversas revisões à luz de novos estudos, o que aliás também vale para todos os dicionários posteriores, no que consignam.

Obsolescer como obra de consulta é só uma questão de tempo para qualquer dicionário, só que quando isto fatalmente acontecer aos melhores dicionários atuais, o Littré ainda existirá pelo menos na condição de uma respeitável referência.

Somente à guisa de comparação, hoje em dia ainda existe quem execute, quem ouça a obra de compositores como Bach, Beethoven, Mozart e alguns outros, bem como quem para estudá-las sobre elas se debruce por anos, décadas não existe? E pelo que estas obras são, só se pode esperar que seus apreciadores continuem sempre existindo.

Justamente como estas obras estão para a música, está o Littré para a lexicografia, sem qualquer hipérbole.