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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Arregaçando mangas

Já é tempo de arregaçar mangas.
Lexiocografia não é um blog de nome muito atraente, sei disso.
Sugere conteúdo acadêmico, didático, sei lá, coisa congênere.

Mas não foi para afugentar o leitorado com estas presunções que o elegi.

Aqui, direi alguma coisa de minha experiência pessoal com dicionários, aos quais sou infinitamente grato.

Por eles já aprendi bastante, ao longo das décadas, isto é certo, porém eles mesmos é que me proporcionam invariavelmente esta incrivelmente útil conscientização do quanto ainda ignoro e certamente sempre ignorarei.

Sou poliglota, e meu trabalho de tradutor dá bastante serventia a tal poliglotismo, bem mais que meu primeiro blog não-vernáculo, o Me and My English, que agora corre mundo pela blogosfera e me dá uma estranhamente boa sensação de estar sendo mundialmente ignorado, a tirar pelo número de visitas e de comentários até agora recebidos. Mas aquele lá é um blog muito jovem, ainda. Com o tempo sdaberei melhor da conveniência de continuar mantendo-o e mesmo de criar outros redigidos exclusiva ou predominantemente em línguas como o francês, o espanhol, o italiano, indo até o limite de minhas possibilidades de explessão multilíngüe.

A principal ferramenta na lenta aquisição de meu poliglotismo sempre foi o dicionário, primeiro aquel velho (ou nem tão velho) dicionário físico, de papel, depois os tantos outros em versão eletrônica e online. Leio-os por hábito desde quando me alfabetizei, há mais quatro décadas e meia.

Acho fascinante o universo das palavras. Sou pessoalmente um testemunho vivo de que maravilhas os dicionários podem fazer pelo conhecimento de alguém. Também posso dizer alguma coisa de suas limitações, suas falhas, suas possibilidades e suas impossibilidades. No Brasil o dicionário é chamado às vezes de "pai dos burros". Nesse tempo todo sempre tentei ser-lhe bom filho, sempre levando minha burrice a cada página, a cada verbete, e sempre colhendo o que ele tivesse a oferecer, como o bom pai que é.

O léxico de uma língua qualquer é praticamente inesgotável.

As coisas que existem costumam ter nome e não é possível a ninguém saber o nome de todas numa dada língua, por seu próprio número. O trabalho com tradução confronta quem o realiza com esta impossibilidade em base diária. Sempre há mais que se descobrir, aprender, incorporar ao vocabulário pessoal.

São bem raros em todo o mundo os casos de vocabulário individual que alcance as quarenta mil palavras, o normal é as pessoas saberem bem menos. Com apenas duas mil palavras de alta freqüência você já começa a ter um certo desembaraço com uma língua, seja a sua ou estrangeira, e as restantes vêm de acréscimo, com o tempo, praticamente não havendo limite.

Mas um bom vocabulário é de uma utilidade incrível. Não me refiro às hapax legomena, aquelas palavras que aparecem uma única vez em toda uma obra ou até na língua, que estas são raras demais. Refiro-me às próprias palavras usuais, mesmo. Conhecê-las em bom número, saber também sua origem, seu(s) significado(s) estabelecido(s), sua pronúncia mais recomendada, sua grafia correta, suas flexões, seus derivados, essas coisas todas geralmente é possível com simples consultas constantes a pelo menos um bom dicionário.

Você não acha interessante saber que palavras aparentemente tão diferentesw como "circuito' e "período" trazem no fundo a mesmíssima idéia respectivamente do latim e do grego? Ter noção da evolução histórica da sua língua não é conhecê-la melhor, com mais profundidade, e apoderar-se pessoalmente de novas possibilidades expressivas? Uma noção clara dos vários mecanismos de formação de palavras numa língua não é um recurso e tanto na hora de topar com palavras nunca dantes apresentadas? Ao ler os bons escritores, quanta coisa se explica por si mesma, quando se cultiva conhecimentos desse tipo! Quem lê o Cândido de Voltaire, bela obra em si, pode adivinhar-lhe intenções comunicativas na escolha de cada um dos nomes próprios deliberadamente escolhidos para o óbvio prazer de quem possa interessar-se por semelhantes questões onomásticas.

A tradição lexicográfica em língua portuguesa já é respeitável, mas muito ainda resta por fazer e nisto vai um imenso leque de opções para os que se disponham a fechar as tantas lacunas, corrigir as tantas falhas, emfim, nem para os dicionaristas da atual geração nem para os das próximas, jamais haverá de faltar trabalho.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Abertura

Este é meu novo espaço virtual para falar de lexicografia.

Tentar falar de lexicografia sempre foi para mim algo que esbarra invariavelmente com uma dificuldade aparentemente intransponível: com quem?

Os dicionários físicos são repositórios de palavras ordenadas alfabeticamente, classificadas, explicadas, exemplificadas, e com estas palavras há todo um universo de idéias associado. É bastante sobre o que se falar.

Parece-me bem comum a opinião laica de que um dicionário possa ser completo. Isto é apenas uma falácia, pois dicionários completos não só não existem como não são possíveis.

Criei uma comunidade no Orkut homônima deste blog, mas o número de pessoas que aderiram foi pequeno demais para um arregaçar de mangas.

Repeti o feito no Globo Onliners, criei lá uma comunidade lexicográfica, mas apesar de já ter um bom número de participantes, ainda não apareceram os resultados pretendidos e esperados nem numa, nem na outra.

Agora lanço este blog.

Nele o que me apetecer de divulgar sobre lexicografia estará circulando blogosfera a fora. imagino que terei leitores, que estes dialogarão comigo sobre estes assuntos através do espaço que lhes é reservado para comentar.

Configurei Lexicografia, o blog, de forma idêntica à de seus dois irmãos, o Bonde Andando e o Me and My English. Sem moderar comentários, pretendendo responder a todos no próprio espaço onde chegarem, como pós comentários ao que disserem meus eventuais comentaristas.

O diálogo é perfeitamente possível, em tese. Cumpridas as condições mínimas da existência deste blog, de sua manutenção com matérias por mim postadas e do surgimento dos comentários, estará aberto o diálogo.

Apelo para a blogosfera, então.

O blog aí está, devidamente inaugurado.


Até o próximo post.