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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Palavras

Nas palavras de cada língua, a alma de um povo pelo menos, o que fala esta língua.

Isto porque há línguas faladas por mais de um povo (por exemplo, o inglês, o espanhol, o nosso português e várias outras), assim como há povos falantes de mais que uma língua (por exemplo, os canadenses, os suíços e alguns outros).

Cada língua é formada de "células", por assim dizer. São suas unidades constitutivas a que chamamos palavras.

Ora, definir (ou mesmo distinguir) o que é uma palavra não é tão fácil quanto talvez pareça.

Experimente contar as palavras de um texto qualquer escrito num idioma que lhe seja completamente incompreensível. Você naturalmente contará as unidades gráficas que estiverem limitadas por espaços, como faz qualquer editor de texto eletrônico. Obterá desta forma um determinado resultado numérico, que acreditará correto. Mas dificilmente esta contagem estará correta.

Digamos que o idioma ininteligível para você fosse o alemão. Você na certa contaria como duas palavras cada verbo "trennenbar". Isto porque a parte de base de tais verbos alemães aparece antes, em geral bem antes de um característico prefixo separável, que vai geralmente lá para o final da sentença. Assim, o verbo que figura nos dicionários como "aufstellen" pode (e costuma) aparecer nos textos como "stellen ... auf". O verbo "aufmachen" como "machen ... auf". Por outro lado, o idioma alemão permite a formação de compostos longos. Pode-se dizer com um só desses "palavrões" teutônicos algo como "a maçaneta da gaveta da mesa do gabinete do ministro de estado das relações exteriores" ou qualquer esquisitice congênere. Isto naturalmente seria contado como uma palavra só, pela aparência. A contagem feita apenas pelos elementos radicais demarcadas por espaços acabaria por refletir um número completamente falso, e bem discrepante do número real de palavras.

Existem coisa de seis mil línguas no mundo, a esmagadora maioria das quais são línguas ágrafas, línguas sem sistema de escrita. Quando se trata de definir ou identificar o que é ou o que não é uma palavra, não é de se admirar que a coisa se complique até o limite do acreditável.

Vemos nos dicionários aquelas unidades chamadas verbetes ou entradas que tratam de palavras isoladas, ali definidas, explicadas e exemplificadas como o que são - palavras, mesmo. Isso nos dá a impressão falsa mas muito reforçada de que as palavras isoladas existem. Na verdade não é assim. As palavras só existem em associação umas com as outras, de acordo com muitas e bem complexas regras. Mesmo quando por acaso ou convenção utilizamos uma palavra só, há um bom número de outras a ela indissociavelmente associadas naquele determinado contexto, que simplesmente ficam subentendidas. Se por convenção ou economia dissemos apenas a palavra "fogo!", quereremos dizer algo do tipo "atire agora, abra fogo!", ou então "está havendo um incêndio!"

As palavras encerram em si um enorme tesouro, por vezes bem pouco explorado. Se averiguarmos sua formação, sua origem, suas colocações, sua evolução histórica e tantos etcéteras cabíveis, veremos facilmente como elas são ricas e quantas coisas interessantes há nelas e sobre elas para se descobrir.

Estou definitivamente convencido de que se a elas nós dedicamos suficiente atenção e carinho, elas retribuem lindamente. As palavras, essa coisa meio etérea, de certa forma nos enriquecem com uma fortuna que, embora nem sempre traduzível na "outra", a fortuna atrás da qual tantos passam a vida a correr, ao menos uma fortuna intangível que não se desvaloriza nunca, que não se perde nunca e que não há quem nos possa tomar.